segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Amar

Fotografia de Patty Letta 



Crescer
Amar
Conhecer
Amar
Duvidar
Amar
Ouvir
Amar
Apalpar a vida
Amar
‘Experenciar’ a vida
Amar
Lamber a vida
Como a boca
Com o corpo
Com os olhos
Com a alma
Reter até a última partícula
Do último instante
Até o derradeiro suspiro.
Amar e amar
E, amar.
E como é bom amar!


Eleni Mariana de Menezes

Incertezas

Fotografia de Олег ф




Sou uma parte deste Universo
E de tudo que há Nele.
E o Cosmo habita em mim
E eu no Cosmo
Os séculos que já se foram
Deixaram suas partículas
Espalhadas no meu corpo
E minha mente condensa
Vidas passadas dos meus antepassados
Eu me doo pras experiências
Já vividas e retidas em recônditos
Lugares da memória
Que transborda de mistérios.
Quem sou eu agora?
O que já fui pela eternidade
Que atravesso?
Transito neste mundo
Com a boca cheia de palavras
Não ditas
E com a alma carregada
De vidas ainda não vividas
Sou uma explosão de enigmas
Um poço de surpresas
Um vulcão de incertezas.


Eleni Mariana de Menezes

Menina Eterna

Fotografia de Rosângela Bl 

Não me conheço
Estranho-me
Apercebo-me estrangeira
Neste corpo que me veste
Reveste meus sonhos
Alma de bailarina
Em corpo de idosa
A vontade é de leoa
Mas o coração não será
De um cordeiro?
Abro meus dedos frágeis
E minhas mãos não mais seguram
Meus desejos
Que tento retê-los neste físico
Minguado pelos anos.
O espelho reflete um ar cansado
Mas o olhar ainda grita
Por vida
E o que me acalma a alma
E que me sinto ainda

Uma eterna menina.

Eleni Mariana de Menezes

Minha Crença

Fotografia: MERCEDES AÑOTO 


Creio em tudo que vejo
Desde que cheire a amor
Que tenha as cores do amor
Que tenha a melodia do amor.
Que tenha o brilho do amor
Creio em almas prenhas
Generosas
Corações fartos
Gestos delicados
Regados de amor
Creio na alegria
Sem zombaria
Disfarçada
De quem ama a vida
Em uma gargalhada
Que ecoa doce nos ouvidos
Um riso sincero
Um olhar penetrante
Que rasga a indiferença
E nos descobre
Submissos e crentes
No amor que é pura
Vida nas nossas vidas.


Eleni Mariana de Menezes

O Ir E O Ficar

Fotografia: MERCEDES AÑOTO




Partir é morrer
Ficar é sofrer
Partir é sofrer
Ficar é morrer
Não queres partir
Não quero ficar
Não quero partir
Não queres ficar
Não queremos nos separar
Partir só é não saber aonde ir
Ficar só é perder-se no vácuo
Agora tu partes
Agora eu fico
Tu morres e eu morro
Tu sofres e eu sofro.
Mas levas contigo mil pedaços de mim

E fica comigo mil retalhos de ti.

Eleni Mariana de Menezes

Perseguição

Fotografia de: Amanda Castro




E seguirei teus passos pela praia
Nas marcas dos teus passos ecoantes
No ressoar do mar
Nas ondas errantes.
E seguirei teu vulto pelas noites
Em cada astro, estrelas reluzentes.
Na boca da madrugada sentirei
Teus lábios quentes.
E seguirei teu cheiro pelos campos
Nos ramos e nas folhas verdejantes
Hei de sentir de novo no meu corpo
Tuas carícias sussurrantes
E seguirei a ti,                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            mais além, no infinito.
No voo das gaivotas e albatrozes, nos instantes.
Em que voarem asas lá no anil
Relembrarei momentos sonhejantes
Por vales encovados nos abismos
Nas aves, nas asas tão arfantes.
Dentro de mim,
Hei de perseguir-te
Nas minhas lágrimas amantes.

Eleni Mariana de Menezes

Tua Existência

Fotografia de Günter Tauchner



E à noite, então, jogo-me ao leito.
E rompe em minha face, a fonte.
Toda a tristeza invade minha alma;
Tanto morrer nos sonhos, o silêncio.
Da noite que traga e exprime
Este amar-te que me mata e não redime
A lágrima de um canto amante.
Fecho os meus olhos...
Vejo-te ao meu lado, o mesmo riso.
O corpo imaculado, a tez serena.
A boca a me envolver o corpo;
E vejo-te nos olhos, nos teus membros.
A fonte que me aplaca me sacia
E de repente em triste agonia
Vejo que é sonho.
A madrugada me descobre insone
Lacrimejante e inerte no me leito
Com o coração a evocar teu nome
Com esta ausência que me fere o peito
E o Sol desponta doira o infinito
E um novo velho dia me desperta
No mesmo e novo lancinante grito
No não te ter
Na distância que me perde
E tendo findo os sonhos meus
E tenho um brilho de esperança
Uma vontade de rever-te, retocar-te.
Grito ao Uno por clemência
Pra me perder de amor em tua existência.


Apenas Sonho

Fotografia de ANNA

A tua ausência queda os meus passos
E já nem sei por qual caminho vou
Somente a utopia me leva aos teus braços
Num doce sonho que o tempo me roubou.
E à noite sou alma solitária
Que não encontra eco na voz e silencia
Não há mais que dizer do amor doce
Palavra. Já não celebro nem estar
Num mundo e desfalcada
Descalça e nua. Sigo rota
Uma rota vazia de esperança.
Eis-me sem ti. O sonho não renasce
Por que a noite densa envolve o meu ser
E reparte o meu coração em mil pedaços
Aos poucos vou morrendo porque o sonho
Não vinga e a minha realidade
Brutal demais me engole e me consome.
E vou pela vida afora repetindo o teu nome.



 Eleni Mariana de Menezes

A Espera

Fotografia de

ROMI SHARMA


Há uma vida em cada olhar
Com dias escaldantes e sombrias noites
Doce retorno em cada passo errante
Mil segredos em cada beijo sussurrante.
Em cada coração a palpitar
Existe um Sol e um Luar
Em cada olhar um riso doce
Em cada riso um olhar devoto
De quem tem vida pra viver
Além dos medos de não ser amado
Mas ainda, amar e muito,
Cada vivente encontrado
Ardendo de desejos de um dia
Encontrar o Elo perdido no passado
Quem dera um amor pra ser o
Maior do mundo.
Largo e profundo
O milagre tão esperado.



 Eleni Mariana de Menezes

Aquele Olhar

Fotografia de

Denise Hana



E não esqueço aquele olhar tristonho
Aquela lágrima cadente
Tal qual estrela reticente
A escorrer por tua face santa.
E ao ver-te a dor foi grande e tanta
Que desandou o meu querer
E eu quis tanto e assim morri
De tanto amar e sofrer
O meu silêncio sufocou meu grito
Morto na garganta e se fez grunhido
Não de gente, mas de fera enjaulada.
Somente uma vez aquele olhar
Atravessou-me. E foi como se fora
A vida toda. Talvez que outra vida
Ou outras tantas, vivi nos braços teus.
E tenha tido o teu olhar postado em mim
Pela eternidade sem fim.

Eleni Mariana de Menezes

Tempo Em Três Tempos

Fotografia de 

Petrus Apostolus




Sinto o tempo infinito
A vida espreita
O corpo que é finito
O tempo é tempo
Não é grito
Se fora está sem voz no momento.
Tempo é nunca visto
Em tempo de ser feliz

Há um tempo em que o sonho acorda
No meio da vida
E coloca um gosto de não dá mais
Na boca da gente
Que fica apalermado com o tempo que se acaba
E o sonho fica então adormecido.

Não pesemos o tempo
Por que ele passa
Sem piedade das nossas fraquezas
E nos transforma em espectros
De gente
Nos leva pra longe dos nossos sonhos
Pra fora das nossas ilusões
E viramos nada.
Definitivamente.


Eleni Mariana de Menezes