terça-feira, 8 de julho de 2014

Pequeno ensaio sobre a vida VI (O gato)




Acordei hoje

e o mundo era cinza

pesado e plano

em perspectiva linear,

abri a janela

e arregalei os olhos

pra longe.

Acordei,

com um gosto vazio de terra

e meu quarto cheirava

a mar

e ouvi ondas quebrando nas

pedras.

Sei que será um dia perdido

mal começou

e eu o sinto esvair-se

entre os meus

dedos (medos);

no espelho...

estou nu

e me contemplo completo de

carne e ossos,

corpo de sonhos

campo de

plúmbeasolidão.

O gato enrolado em si mesmo

dorme,

olhar semi-aberto

e cinza

sem preocupar-se

com o dia

e o vento

que pula pela janela

e nos abraça.

Parece-me um sonho eterno

abrir o mundo

com os olhos cinzas

ver o cinza rasgando o peito no frio do amanhecer;

não me arrisco a penetrar neste granítiespaço

guardo meus pés nas cobertas

fecho a janela e me esqueço que é dia lá fora;

o gato abre olhos

olhar cinza em mim

lambe a pata

e se enrosca

dorme

não se dá conta

nem sente o cinza,

apago os olhos

e sonho o cinza.


Autor: ESIO MARIANO