sábado, 30 de agosto de 2014

A MESMA SORTE



Eu quero a mesma sorte dos casais que celebram
O amor em um jantar-cruzeiro com "Marina de Paris", 
Descobrindo a cidade Luz enquanto saboreiam um refinado menu
Para aqueles que pelejam no Zimbábue em condições subumanas
E se espremem em minúsculas cabanas 
Feitas de barro
Com seus filhos desnutridos e sedentos.
Ir até o continente africano nem precisa.
Quero essa mesma sorte rica para os brasileiros
Ensacados numa bolsa de codinome família.
Esmola que lhe estendem para lhes comprar o dedo
Qualquer um deles que vá apertar a tecla
Que garanta para os do poder o sustento, que sustento!
Tenham tento...
Uma preciosa caixa com milhares de aumento
Dois?
É apenas um nome simples, mas que guarda uma inimaginável
Montanha de dinheiro.
Que dá até pra comprar aviões.
E outros, vão extorquir esfoliar o povão e se refestelarem
Com a barriga cheia em Planaltos e planícies
Com suas esquisitices
De se autoproclamarem salvadores da Pátria Amada.
Então eu quero a sorte dos mandachuvas estendida
Para cá, para os que ficam do lado de fora do muro das mansões
Para os que vagam nas ruas
Moram em casebres
E sobrevivem de lixões
E se enjaulam em prisões.
Não vou aceitar menos, nem para tal
Proponham-me nada menor do que isto.
E tenho dito.

Autora: Eleni Mariana de Menezes

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

COISAS DA LUA



Chego à janela e fito a Lua

Então ela me pede pra ser sua namorada;

Eu respondo

Não pode ser. Talvez eu namore o Sol.

Por que ele é masculino, você é feminina e sou mulher.

Ela retruca indignada e meio sem jeito.

Xô preconceito!

Gerúndios de outono




Vou estar tentando escrever a minha lenda

De prenda nada. Preciso preservar a minha 

Vou estar redesenhando o meu destino.

Desatino. Não sou nem mesmo desenhista.

Vou estar reconstruindo a minha estrela.

Sem brilho que se apaga dia após dia.

Vou estar bebendo meu último cálice derivativo

Do sacrifício que eu escolhi para padecer.

Vou estar soltando todos os bichos presos

Dentro do meu ser pequeno e intempestivo.

Vou estar decifrando meu enigma.

De não ser nem de longe o que sonhei.

Vou estar navegando entre as almas

Sonâmbulas que giram em torno de si mesmas.

Vou estar aqui neste lugar

Gerundiando e cometendo neologismo

No meu tempo de outono

Pra ver se acaba o meu abismo.

E no infinitivo possa a minha primavera retornar.



domingo, 24 de agosto de 2014

Letargia




Laço apertado. Nó gigante. Amarrou a minha

Vontade de partir.

Buscar o quê?

Estática. Fico fitando nada.

Uma estranheza de não saber o que deixei passar

Sem pegar. Requisitar e nomear de meu.

E o vento chega enredando que é tarde.

Que nada volta pro lugar

Tudo é dinâmico.

Só a minha languidez é eterna

Meu estado de hibernação

Não desemboca

Pra nenhum acordar de esperança.

Se estou sem riso e sem siso

Também estão enxutos os meus olhos.

De lágrimas inexistentes que não rolam mais

Em face desfigurada e envelhecida

A viuvez de amores

Visitou-me e se instalou definitiva.

Na minha alma, no meu querer, na minha vida.

Só sei e sinto muito

Que a letargia me engoliu

Total. Inteira.

POSSE





Meu coração é intemporal amor

Por isso transito

Entre longínquos dias e o agora.

Pouco importa se não possuo no momento

Algo concreto de tua poderosa pessoa.

Guardei no meu coração o teu sorriso

Tua voz. Teu jeito indecifrável de fingir

Desinteresse quando eu sei, querias

Via fagulhas de amor no olhar teu.

Fui tua lua, teu luar, sonar...

Foste meu sol, meu arrebol,

Bastou-me.

Porque eu tenho o mágico poder

Das deusas apaixonadas.

E engavetei na minha alma

A tua essência. E atravessei

Meio século de existência

Sorvendo o teu sabor

Demasiadamente homem

Desumanamente inibidor

De nãos. Talvez, ou quase

Absoluta e resoluta estive ai na tua posse.

Que seria desse ser sem estas lembranças?

Seriam o tédio e o vazio engolidores

De mim.


Autora: Eleni Mariana de Menezes

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

SAUDADES...



Saudades...


Oh! Saudades do ontem que

Eu tive teus olhos pedintes voltados para os meus

Lábios e seios.

Até pareceu-me ser amada

E sonhei sentindo uma dolorida agudez

De desejos quase realizados.

Não pude alcança-te, pois no instante seguinte

Partias. Nunca mais deixaste a poesia

Dos teus olhos derramar esperanças

Pros meus tristonhos.

Sepultei nossos abraços suspensos no

Meu pensamento febril

Beijos lúdicos ficaram espremidos na minha

Boca ressecada de tristezas.

E a saudade se ajeitou no meu peito

E nunca mais quis existir sem mim.



Autora: Eleni Mariana de Menezes.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

PARA OS NASCIDOS EM AGOSTO




Segunda OBS: vários leitores nascidos no mês de agosto, reclamaram da minha fala: segundo a lenda, mês do desgosto...

Mais uma vez vou corrigir a minha gravíssima falha, pedindo perdão aos que se sentiram ofendidos. Mesmo porque agosto me trouxe várias preciosidades: minha bela irmã Eleuza. Minha bela sobrinha Aline, e muitos amigos lindíssimos: verdadeiros presentes de Deus. Portanto, agosto estará no meu coração como um tempo  lindo de muito mais ganhos do que perdas.

OBS: muitos leitores entraram no Hangout reclamando do meu egoísmo, por  isso acresci um parágrafo para fazer às pazes com eles.


Quarta-feira 13 de agosto, mês em que o menino, posso chamá-lo assim do alto dos meus 60 anos, completou 49 primaveras. Não podia ir tão cedo, que Deus me perdoe pelo destempero. Agosto o trouxe. Agosto o levou embora.

Por coincidência ou ironia, ventos do seu mês natalício, ou uma fatalidade mais perversa derrubou o pássaro de ferro que o acolhia o garoto no seu bojo.

Parecia indestrutível, enganamos... Não protegeu o nosso sonhador.

Um pouco depois das 10 horas, eu navegava na minha rede social como faço nos meus horários livres e como costume, a minha televisão fica ligada, sempre no noticiário para eu, aposentada, me sentir incluída. Se não ativa, ao menos conhecedora das coisas que giram pelo mundo afora.  

Uma repórter de fala mansa e pausada anuncia uma nota: O Comando da Aeronáutica informa que nesta quarta-feira (13/08), por volta das 10 horas, uma aeronave Cessna 560XL, prefixo PR-AFA, caiu na cidade de Santos, no litoral de São Paulo.

A fumaça negra emergia sufocando os curiosos e os repórteres que já chegavam ao local em busca de informações mais precisas. Dei uma olhada apenas, por curiosidade, e voltei pro meus contatos.

Ah! Caro leitor, não me condene, caem aeronaves quase toda semana. Por que iria me alarmar com mais essa? Depois o que me interessa se tinha algum João ou José lá dentro? Não, não sou fria, apenas sou conformista. O que eu posso fazer para colocar um fim nestes calamitosos desastres? 

Chorei copiosamente alguns deles: os sobreviventes, a tragédia dos Andes foi o primeiro, ao menos o que mais ficou marcado na minha alma tenra. Depois, vieram outros tantos dolorosos que seria impossível descrevê-los todos. 

Parei de chorar a algum tempo, com a couraça do conformismo vestida e tentando me passar por uma fortalecida diante dos revezes da vida. 

Levantei-me, cansada de tanto dizer olá pros meus amigos e voltei para os afazeres domésticos. Quando regressei pro meu quarto, a televisão ainda ligada trouxe a punhalada afiada e penetrante até o âmago da alma.

“Morre Eduardo Campos”, e diante dos meus estupefatos olhos, os destroços gritavam o horror agonizante e fatal.

Parei de chofre, desacreditando nos meus olhos e ouvidos. Chocada, soltei um grito silencioso que ecoou pelo infinito. 

Rasga-se a cortina do indiferentismo:
“Nãoooooooooooo! O Eduardo Campos não, não pode ser. Estão enganados, deve ser outro Eduardo. O que importa o seu sobrenome? Silva, Freitas, Nunes... Qualquer outro, não o Campos.

Por que iria o menino partir no meio de um sonho arrojado e grandioso como o seu caráter?

É claro que ele estava nos meus planos de eleitora por razões que passavam pela postura política exemplar, pelo novo olhar que lançava para os problemas do Brasil, pela integridade do homem pai e esposo, governador com a maior aceitação dos eleitores. Enfim, por uma série de motivos sérios e verdadeiros.

No entanto, eu quis, quando da sua oficialização da candidatura, brincar de poetisa e lhe enviei um recado, também pela televisão. Recado que nunca chegou aos seus ouvidos, e, claro, não era mesmo pra chegar.

“Ah! Eduardo, não  peça o meu voto me olhando com esses olhos tingidos de mar, pois eu não darei de negar.”

A minha alma de eleitora está em luto e negra como aquela fumaça assassina que levou o nosso Eduardo.


Refeita do choque brutal, reflito: Qualquer ser não merecia tal tragédia, fosse ele o João, ou o José, ou qualquer outra pessoa dona de um sonho, uma família, amigos, um projeto. Repenso e peço perdão pelas minhas considerações egoístas. No entanto, insisto que,  minha alma está perplexa e politicamente vazia de esperanças.




Autora: Eleni Mariana de Menezes.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A catadora de lixo



Sobe a minha rua todos os dias

Recolhendo o lixo reciclável

Carrinho lotado e rangindo pelo peso

Lá vai ela com passos miúdos.

Pele encardida pelo sol

Enrugada pela falta de trato

Não tem pote de creme, nunca o teve

Nem de azeitonas, azeite, maionese,

Não tem na verdade, nenhum pote

Em seu casebre de paredes de latas velhas

E telhas quebradas, partidas como o seu coração

Dolorido e cansado.

Fui até lá levar-lhe umas coisinhas, poucas

Dentro das suas inúmeras necessidades

Pelo Natal passado.

Fiquei chocada com tamanha carência:

Não tem fogão à gaz. As panelas destampadas fervem num fogão de lenha improvisado no quintal.

Não tem geladeira. A comida que sobra, se sobra, terá de ser consumida azeda.

Conversamos, algum tempo.

Deixou-me saber da sua dor de ser sozinha

Viúva com um filho adolescente

Que não quer saber de nada,

Indo ao encontro do nosso desinteresse por eles.

Da sociedade e dos que estão lá no poder.

Com enorme pesar, faço uma comparação

Com nossas atitudes.

Enquanto ela nos livra dos nossos entulhos,

Nós enchemos a sua alma e o seu coração

Com mágoas e ressentimentos

Por conta do nosso grande egoísmo

Egocentrismo, individualismo

Consumismo exacerbado que não nos permite partilhas.

E por escolhas erradas que fazemos na hora de eleger nossos governantes,

descomprometidos com projetos sociais eficientes.

Pobre catadora de lixo!

Está órfã em um mundo 

Mesquinho 

Excludente 

Capitalista...


Autora: Eleni Mariana de Menezes.

domingo, 10 de agosto de 2014

Para meu pai Orizon.





Menino meigo,
risonho.
Humor sempre à flor da pele.
Suas gargalhadas explodiam 
Com o encantamento de alguém que descobre o mundo
E está sempre enamorado pela vida.
Colocava o coração
no doce olhar brejeiro
e faceiro
Construía poemas pra amada Mercês.
Talvez
Sem sabê-lo fosse um poeta
Não, talvez não, ele o era de fato
Na simplicidade de suas palavras,
tecia lindos poemas
Cujo tema versava sempre o amor
Grande amor dedicado à eterna amada.
desenhava neles, a menina dos sonhos.
Também foi valente
passou pela vida de uma forma
Magnificamente inteligente!
Homem decente e prudente.
Pois, apesar de muito pobre delineou com exemplos, os perfis dos seus filhos.
Com sua bela herança de honestidade
e generosidade.
Hoje somos todos ricos de valores humanos.
se estivesse aqui entre nós
Teria completado 86 anos de uma exemplar existência.
como partiu, compõe agora lá infinito
86 bilhões de bonitos
Fachos de luz.
Minha constelação de estrelas.
Meu sol
Meu herói imortal.
Meu dilúvio de amor.


Autora: Eleni Mariana de Menezes.

sábado, 9 de agosto de 2014

Poema de adeus




Se tu soubesses sobre a pedra que há no peito,
que não tem mulher no mundo que supere os teus defeitos.
Se tu soubesses, por acaso, que pariu um bom sujeito,
e pôs pra fora, renascido, o que nele havia preso.

Fique só, que eu estarei ,de longe, te olhando.
Desse leite cuidando, derramado e sem retorno.
Que fique morto, estou sem remo pra rimar,
sem a vela pra velar, já não sei entrar no mar.

E me olhavas, chorando, como já dizendo adeus:
-Tu terás a tua casa, onde os filhos não são meus.
E me sentias, partindo, já sabendo o que perdeu:
-Vou pra longe, não sei onde, se eu volto? Sabe deus.



Autor: Álisson Bonsuet

domingo, 3 de agosto de 2014

GAZA aGonizante.



GAZA

aGoniza.

AGORA. E fica o nó preso na

GARGANTA do mundo omisso.

GATILHOS de metralhadoras destravados

GRITAM foGo e bombas

GERMINAM do céu, anjos neGros da morte.

GANIDOS dolorosos se espalham

GRILHÕES das almas tenras se fecham numa

GUERRA cruel e desumana.

GRUNHIDOS e lamentos tinGem nossas páGinas em

GROSSO, robusto e verGonhoso

GRAVÍSSIMO

GESTO de lavar as mãos. Tentamos o cessar-foGo

GABAM autoridades do resto do mundo.

ENGROSSAM, alguns, o poderio do armamento que já

estranGulou mais de trezentas crianças indefesas.

GENUINAMENTE inocentes, mas ai, que ainda

GEMEM os esfacelados sobreviventes...



Autora: Eleni Mariana de Menezes.

sábado, 2 de agosto de 2014

PALESTINOS PEDEM PASSAGEM




POBRE

POVO

PALESTINO

PEDINTE

PISOTEADO

PERPLEXO

PROTESTA

PEGA

PESADO

PARA

PERMANECER

PORTADOR

PATRIOTA e

PERMANENTE na

PROMETIDA

PÁTRIA.

PARLAMENTARES Israelenses.

PIEDADE

POUPEM a

POPULAÇÃO civil, ao menos.

PESEM os atos antes de

PRATICAREM

PUNIÇÕES

PERIGOSAS

POR favor

PARLAMENTO de Israel,

PRIMEIRO-ministro Benjamin Netanyahu

PARE com o

PISOTEAMENTO nas vidas humanas

PEQUENAS criaturas sendo mortas.

PROMESSAS de uma vida drasticamente

PRIVADAS do maravilhoso milagre de existir.



Autora: Eleni Mariana de Menezes.