Sou mais que essa velha caminhante.
Trôpega, indecisa, frágil, cambaleante.
Aprisionada em meu mundo diminuto
Oco, monótono, insípido, devoluto
Ora sou uma escritora de suspense.
Outra vez dramaturga, outra circense.
Sou bailarina russa, talvez a Pavlova
Danço com Nijinsky e ou Baryshnikov
Ora sento à mesa com Tolstói e reescrevo
Com maior arte, no meu sonho, doce enlevo
Anna Karenina. Ressurreição. Guerra e paz,
Ou os desconstruo por pirraça, se me apraz
Ainda posso ser uma famosa meretriz,
Mata Hari. Também posso viver uma atriz.
Monte Negro, ou a bela de Tróia, Helena
Até uma fogosa amante, Ana Bolena.
E viajo nas noites regadas de magia.
Chego a Paris e vejo que me contagia
Mona Lisa no Louvre, Então, sou ela.
O pincel de Leonardo me cria e anela.
Meus cabelos e compõe o meu sorriso
Inigualável. Apenas retrato, sem o siso.
Pouco importa. Imortal, sou valiosa.
Única. Célebre. Singular. Formosa.
Então, senhores, sou mais do que veem.
Seus olhares desnudos, mais que creem
Seus sentidos que não podem perceber
A multiplicidade magnífica do meu Ser.
Autora: Eleni Mariana de Menezes