domingo, 1 de novembro de 2015

Sombras





Eu sei que sou apenas uma sombra
e mais,
neste infinito vale de trevas,
neste precipício de palavras perdidas
e frases decoradas,
apenas uma sombra
entre essas ruas escurecidas,
por entre os negros corpos, ocos
e já não me resta mais nada que valer.
Eu sonho,
e sei que nada mais ou do que penso ser
e imagino que seja,
e já nem sei o que devo ser
e o que serei.
Nada mais do que um edifício celular,
anatômico, antagônico
atônito de mim mesmo,
e não me resta dúvida alguma,
que a carne morre,
e nem mesmo há de sobrar um resto de
esperança
eu vou, nada fica.
E nada muda, além de mim mesmo
e nada mais vale além de mim.
Talvez me sobrem alguns sonhos,
trapos adquiridos nos caminhos a esmo
na solidão de certezas.
Nada mais do que uma sombra,
aguardando sobras e migalhas
restos,
e nada vais restar, a sombra um dia morre
apaga queda,
somente a luz e a treva
há de continuar insinuando sombras
que como eu também passarão
e que talvez, nem resistam.


A.N.I.

Provocações





A lua beija o corte
o decote mostra formas
vai além:
sobe e intromete panos
busca o oásis;
quase a fonte
desses azuis nasce o canto
e desce em lastro riso
levando cabelos de solidão!
A moça
floresce flor em banco
jasmim na força da rua
e lírio branco da esquina
e o cavalheiro ganha dela graça
já não se passa na mente
tabus (conselhos maternos)
o terno sufoca
provoca
ela solta o pássaro...


A.N.I.

É preciso aprender a viver





Há de passar o tempo
como as aves em bando
que levam pra outas terras
nas asas que vão ruflando
seus cantos em outras serras
noutros galhos revoando

Há de correr o tempo
como o vento pelas matas
nas folhas fazendo festa
no turbilhão de cascatas
brincando no chão das florestas
no orvalho das serenatas

Há de voar o tempo
deixando marcas no rosto
num leva e traz de amargura
o amor se enverga em procura
leva o sorrir traz desgosto
viver sem vida é imposto

E no tempo que decorre
alvura de esposa os cabelo
fraqueza no corpo inteiro
nos olhos velhos, luz que morre
nada ajuda ou socorre
e perde-se ao léu os apelos
no tempo que como o vento
corre pro infinito

Como aguaceiro que corre
homem nasce no menino
mudanças dos anos que voam
andanças noutros caminhos
que desentoam destinos

Presente se faz passado
futuro será presente
e há de nascer d'outro ventre
frutos de amor, de repentes.

Contra as águas do tempo
promessas não são eternas
os anos varrem os sonhos
momentos que rompem laços
abertos estão outros braços
esperam sem se cansar

Tempo corre em águas
cascatas de corredeiras
varrem mágoas, mudam vida
traz amor, rasga ferida
molda outro rosto e vive,

E é preciso caminhar
E aprender a viver
O tempo há de passar
E a vida vai correr,
E é preciso aprender a viver "viver".


A.N.I.

Agora e sempre





Cansado de um jamais
exausto de incertezas
eu venho de um naufrágio
de tristezas
de caminhos rotos
com olhares tíbios
dévios estelares
bêbado de altares
onde me busquei
puro de mil bares
onde me amputei

Cansado de demais
ausente de esperanças
eu venho de folguedos
de mil danças
e tranco travo a boca
escondo meus segredos
e busco a ânsia
do jamais eterno.


A.N.I.

Antes que parta





Antes que parta
o breve beijo dos teus lábios
antes que se abra a porta
e solta voe tua fala pelas frestas

Antes que parta
o efêmero desejo no meu corpo
antes que feche a porta
arrombarei tuas comportas
e hei de me afogar em teus soluços
e hei de naufragar em teus abraços

Antes que eu parta
o breve breve beijo do teu corpo
manchará meus lábios
e sairei sorrindo nas calçadas


A.N.I.

Ardor








O beijo
e a esperança do silêncio
a voz tão flácida
e a placidez de olhar
há o tocar além
e o respirar se faz
na oração, na ária
no canto a dois do amor

O riso corre ares
e o dedilhar contorna
um caminhar perdido
e o espaço jorra fragas
há o entoar de asas
do abraço feito em cores
são mil estrelas reluzentes
garçando corações amantes

O beijo
e o vazio se despedem
o olhar além acaricia
e o mar tangendo a praia
doira a lua
e nasce e corre, a alegria
enche a rua.



A.N.I.

Online





A rua onde moro e que namoro
É minha estrada meu refúgio.
Onde se dá a
Minha estada no mundo
Meu mar onde flutua
Minha existência em quase inércia
É só nela que eu transito
Por isto insisto
Ela é minha cidadela
onde eu me sinto bem e
o vai e vem
de carros e pedestres
Fazem-me bem
Sinto-me inclusa
Em centenas de milhares de cidades que eu jamais porei os pés
Nas suas ruas todas
Então,
deixo minha alma visitá-las
Quando fica online navegando por elas
O meu coração.

Eleni

Em busca da cova eterna.





Em volta de nós, a noite criada
surgida do anseio uno e solo
somos sombras mortas
como essa chama que cresce
crepita e depois morre.
Relembramos nossos mortos
sem cores dos amanhãs
e ficamos sempre a derivar
Somos sombras criadas
em volta do fogueira efêmera
com palavras imortais no peito
e a revolução sexual na boca.
e uma explosão de risos
embebidos de cerveja e angústia.
Estamos mortos sobre nós
e sob nossos corpos
já dano o tic tac
e em volta da fogueira
sonâmbulos vagamos, sob a lua
em busca da cova eterna.

A.N.I.

Como jamais





Eu sou uma parte dessa anarquia
Despótica, bipartidária
Apóstola do inconformismo tígrico
Católica de consumismo incomum,
Sou um pedaço desse corpo neocósmico
Ultraorgânico
Desmembrado celúlico bubos,
Além de anatomia
Sou cria parida da hibridez tesúdica
gênese cibermadrigal
Mas é preciso o muro
a juventude ainda me chama
ao medo, e ao jeans surrado
ao jazz  crucificado
ao jus de não me olhar
e não me proibir.
Eu sou um desse todo e vasto
nada mar
janela indiscreta no parapeito
do peito a boca
até fartar no olhar
De Pound, um vivaldino
dançando tango num Leblon
desfibrilando Ravels e Guaranís,
sou fruto decaído. Dessa cepa morta
entre cerca torta
na cola de saber criar a solidão.
Sou um pedaço desse chão
suado e acre hálito de abril's
sou terra
e como terra
"porque és la tierra e tendrás solamiente tierra"
e ao me partir
nada mais que pó
até o vento consumir e o pó sumir
como jamais.


A.N.I.