Eu sei que sou apenas uma sombra
e mais,
neste infinito vale de trevas,
neste precipício de palavras perdidas
e frases decoradas,
apenas uma sombra
entre essas ruas escurecidas,
por entre os negros corpos, ocos
e já não me resta mais nada que valer.
Eu sonho,
e sei que nada mais ou do que penso ser
e imagino que seja,
e já nem sei o que devo ser
e o que serei.
Nada mais do que um edifício celular,
anatômico, antagônico
atônito de mim mesmo,
e não me resta dúvida alguma,
que a carne morre,
e nem mesmo há de sobrar um resto de
esperança
eu vou, nada fica.
E nada muda, além de mim mesmo
e nada mais vale além de mim.
Talvez me sobrem alguns sonhos,
trapos adquiridos nos caminhos a esmo
na solidão de certezas.
Nada mais do que uma sombra,
aguardando sobras e migalhas
restos,
e nada vais restar, a sombra um dia morre
apaga queda,
somente a luz e a treva
há de continuar insinuando sombras
que como eu também passarão
e que talvez, nem resistam.
A.N.I.