quarta-feira, 21 de maio de 2014

Milhões de amores



Tenho milhares de almas
Milhões de amores.
Milhares de bocas
Trilhões de beijos
De carícias.
De desejos.
Para quem confessaria o meu amor
Se apaixonada sou multidões
De mulheres
Todas gritando por liberdade.
Fisicamente um único ser
Sensível e indecifrável
Dentro de uma solidão incomensurável.
Todos os passantes pela minha vida
Piedade...
Pois se tenho todas as promessas do sim
Tenho de suportar, também, todas as renúncias.
E renunciar quando se ama, é morrer
Disse o poeta
Vim morrendo pela vida aos longos dos meus anos.
Morro todo o dia
Morro a toda hora.
Morro a todo instante.
E morro agora.


Autora: Eleni Mariana de Menezes

Lágrimas vãs




Fui eu que chorei o Pacífico
Quando enxerguei as muralhas erigidas
Com toda aquela riqueza lá dentro.
Enquanto crianças de ruas cheiravam cola.
Fui que verti em lágrimas o rio Nilo
Quando soube que mentiriam
Para angariarem muito dinheiro.
Espoliando os pobres e desinformados.
E mal-intencionados
Inventariam sistemas financeiros.
Cruéis e excludentes.
A fatia seria dividida desigualmente
Muitos sem nada
Poucos com muito.
Gente comeria lixo,
Viraria nada.
Na desabalada
Carreira individualista,
Egoísta.
O mundo chegaria ao caos.
Então,
Minha aflição foi tanta.
Que chorei todos os outros mares e oceanos
E rios, e lagos e lagoas
E riachos perenes e temporários.
E no auge da minha dor,
Quando não me restava mais lágrimas.
Suguei as águas do chão,
Sequei a terra
Do deserto do Saara.
Quando entendi que o homem
Trocaria por dinheiro a sua alma.

Autora: Eleni Mariana de Menezes



Morte




O mundo mudou, com medo e muda/
Escondi-me na despensa atolada/
Da minha alma covarde e reclusa/
Cheia de entulhos e assombrada.//

Estendi minha mão para segurar a flor/
Que despontava envergonhada/
Do meu débil e frágil amor/
Qual cadela faminta e enxotada.//

Vaguei desnorteada pelos caminhos/
Tédio e dor me acompanharam pela estrada/
Feriram-me sem trégua os espinhos/
E eu morri antes de ser purificada


Autora: Eleni Mariana de Menezes

Vazio




Não tive dedos suficientes pra contar
As dores vividas no calabouço
Da minha alma perdida entre mentiras
De que eu sabia que o meu cantar
Levaria com o vento
Para os amados, alento.
Eu nada aprendi dessa troca
De idéias e ideais
Não guardei um só instante
As memórias do aprendizado
Sobre o amor
Que eu vim buscar
Tive apenas ilusões arredias
E apostei em atitudes tresloucadas
Correndo atrás dos que me renegaram.
Acreditei que estes
Poderiam preencher o vazio despudorado
Da agonizante despedida
De quem parte solitária e oca
E solta.
Desprovida de alegria.
Vazia de vida.
Desnutrida e carente
Completa indigente. 

Autora: Eleni Mariana de Menezes

Solidão




Na escuridão soltaram a minha mão.
Não me deram sequer o tempo para o prumo
Sem rumo
Tateei trôpega a parede do Universo.
Sem visão escorreguei no labirinto dos sonhos.
Perdi-me nele.
Não encontrei saída.
Sem guarida, patinei no lodo das desilusões.
Estive órfã toda a eternidade.
Meus deuses não me responderam.
E em todos os cantos
Apenas os meus prantos,
Jorraram em uníssonos enlouquecedores.
Não tive amores
Apenas o eco das minhas paixões
Desabridas e Jamais correspondidas.
Por isso mesmo, vãs.
Fugazes.
Pequenas e pobres como as minhas lembranças.
Não fiz nenhuma história.
Fui sempre um ser totalmente insosso
Vagueei por aí.
E, então, um dia eu morri.
Sonâmbula na minha solidão.

Autora: Eleni Mariana de Menezes

Somente Palavras





Enxutas as palavras que dantes eram belas
Ternas e lúdicas.
Empederniram-se nas esferas recônditas das almas
E nuas desconstruíram as composições melódicas
Que os séculos sepultaram sem pudor.
Mataram os poetas. Todos foram exterminados pela frieza
Do mundo cientificista nada restou da sonoridade das letras.  
Nenhum lamento pelo esvaziamento
Dos seres sensíveis e criativos.
Chegamos à era das máquinas.
Objetivas e sintéticas e os poemas não têm mais luzes.
Ouvem-se apenas guinchos dos homens-robôs.
Nos seus discursos desumanizados.
Pudera! Não são humanos.
Desvalorizado, o homem se encolhe.
Deixando-se permanecer mero objeto
Que fica e fita passivamente
A realidade feroz que o come.
O brilho dos tons eloquentes dos apaixonados
Pela modernidade foram apagados.
E nada restou. Apenas palavras vazias.
Sem tino, desarticuladas que não tecem mais poesias.
Nem compõem rimas, não captam mais a essência
Da singeleza divina.
São tristemente, somente palavras.

Autora: Eleni Mariana de Menezes